A IMPORTANCIA DO
FRACASSO
“Estou certo de que
nossa indisposição para ouvir a respeito de qualquer outra coisa que não seja o
sucesso nos torna especialmente vulneráveis ao fracasso que tememos”. Para quem
imagina que esta é uma frase de algum psicólogo ou gurú de auto-ajuda devo informar
que está profundamente enganado. Ela é a conclusão de um recente artigo escrito
pelo respeitado economista Paul Krugman do Massachusetts Institute of
Technology (MIT), intitulado “Sem tempo para perdedores”.
O atual cenário que
vivemos – desemprego, incertezas mundiais e nacionais, ambigüidade, perdas
financeiras, rompimento de modelos, etc. – coloca em cheque todo um sistema que
criou modelos de sucesso como busca de um estado permanente. Isto produziu nas pessoas,
e especialmente nos sistemas de carreiras profissionais, um grande despreparo
para lidar com fracassos, frustrações ou revezes. Especialmente porque o
sentimento “Pollyana”, de manter-se sempre otimista parecia evitar situações
adversas. Mas o que isto provoca é uma fuga da realidade. Ou, o que é pior, um
total despreparo para encarar e administrar a realidade.
As análises que
procuram comparar o atual momento sócio-econômico do mundo com a grande
depressão de 29/30 são quase unânimes em demonstrar condições muito diferentes.
A velocidade da informação entre mercados e países cria uma dinâmica mais
intensa que exige outros parâmetros e ações. Estamos mais vulneráveis com a
inter-dependência gerada pela globalização.
Mas o que não mudou é
a necessidade do ser humano em compreender todos estes fenômenos nas suas
implicações sobre o seu comportamento e condutas. Negar a realidade ou criar
“escudos” psicológicos de otimismo artificial podem terminar apresentando
efeitos muito piores no médio e longo prazos. E não apenas sobre a nossa
geração, mas as que nos seguem.
E a realidade é
mutante e desafiadora no sentido que muitas vezes podemos extrair excelente
aprendizado daquilo que não deu certo ou não funcionou tão bem. Como dizia
Machado de Assis quando se referia ao passar biológico do tempo: podemos pintar
os cabelos, esticar a pele, mas tudo isto é externo. Interiormente o tempo e
seus efeitos persistem.
Portanto, é
conveniente não apenas aceitarmos as alterações biológicas, ou psicológicas.
Mas encará-las com as limitações e aprendizados que a vida nos
proporciona.
Infelizmente nossos
modelos de êxito e felicidade estão equivocadamente apoiados na conquista da
fama. Mas esta nem sempre vem devidamente acompanhada de felicidade ou sucesso.
São estados e sentimentos diferentes. Os inúmeros exemplos de fama que a mídia
apresenta não garantem referências de felicidade pessoal e profissional.
Voltando ao artigo de
Krugman quando se refere à sociedade americana, diz ele que “faria muito bem
aos americanos se lessem livros de negócios que enfocam não apenas histórias de
sucesso.”
E isto referindo-se à
uma das sociedades onde mais proliferam os gurús do otimismo, pastores
eletrônicos, disque-felicidade, literatura de auto-ajuda e outras formas ou
modelos em que o êxito é colocado como um estado a ser mantido
permanentemente.
O grande risco destas
formulas é que orientam as pessoas à manter um estado de otimismo exterior. Ou
seja, passando aos demais a impressão que está “tudo muito bem” quando na
realidade têm dificuldades para lidar com as incertezas e questionamentos
individuais. Evitam olhar-se na perspectiva de um espelho interior.
Muitas pessoas que
conseguem manter a aparência estão despreparadas para o confronto com a
intimidade e suas próprias inseguranças. Para isto a maioria dos programas de
auto-ajuda não habilitam as pessoas.
Voltando às
observações de Krugman quando fala dos executivos e empresários diz que “embora
de maneira inconsciente, a carreira empresarial exige uma enorme profundidade
emocional. Uma atitude irônica ou um senso trágico da vida poderá torná-lo uma
pessoa mais interessante. Mas poderá também prejudicar a perspectiva positiva
que você precisa ter para tornar-se um executivo ou empresário de sucesso. E a
literatura de negócios que quiser apenas conhecer coisas positivas está
perdendo muito.”
Confio que está
ficando mais claro para muitos profissionais que, tendo que lidar com uma
sociedade com tanta complexidade e incertezas como a atual, não existe uma
solução única. E sonhar continua sendo importante. Mas não basta imaginar que
existam formas mágicas que nos isolam ou impermeabilizam frente à realidade.
Aprender a lidar com
as transições da vida, desemprego, aposentadoria, obsolecência veloz, queda de
paradigmas, decepção com heróis, etc. vai a cada dia tornar-se mais
necessário.
Uma das grandes
demandas do cenário atual é a exigência de criar capacidade de administrar de
forma produtiva o fracasso e tirar dele o aprendizado necessário. Ou como diz
Daniel Piza nos seus “aforismos sem juízo” que “não gostamos da depressão
porque quando estamos nela nos sentimos próximos da verdade
Autor: Renato Bernhoeft, consultor de empresas
Presidente da Bernhoeft Consultoria, que representa o FBCGi -
The Family Business Consulting Group International na América Latina
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